sábado, 27 de fevereiro de 2016

Garota do trem

 Sentada ela estava, com suas pernas entrelaçadas e um All Star vermelho em seus pés,  tão novo que me fazia ter vergonha do meu. As ondas de seus cabelos me fascinavam, tão pretos e volumosos , impossível não reparar. Já estava lá naquele vagão, lia um livro, mas logo parou de ler assim que entrei.  Seus olhos eram tão penetrantes em mim que pareciam ler minha alma. Sentei-me no fundo, um lugar apropriado para olha-la disfarçadamente.
  “Disfarçadamente”, será que ela já ouviu essa palavra? Creio que não. Sem saber o que fazer puxei o meu exemplar de “Sonhos de uma noite de verão” e fingi ler com interesse, isso fez com que me olhasse cada fez mais, forçava a visão tentando ver o livro, acompanhava cada pagina virada me encarando.  O que ela tanto via em mim? Eu que tinha motivos para olha-la.
  Talvez devesse entrar em seu jogo, fechei o livro e a encarei. Tão fofa, envergonhada abaixou a cabeça e sorriu. Tarde demais, levantou e saiu do vagão sem se ”despedir”. A porta ainda estava aberta, sem pensar peguei minhas coisas e sai atrás dela. Parada na frente da porta, procurava algo, ao se virar meu coração acelerou e só pude dizer um “Oi” quase sem voz , sai correndo para as escadas sem olhar para trás.


  O que eu fiz? Aquela nem era minha estação. Eu deveria ter falado mais ou não ter falado nada, mas as vezes pessoas passam por nossas vidas tão rapidamente e causam mais impacto do que aquelas que vemos todos os dias...

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